segunda-feira, 31 de março de 2014

vida

plantar um livro, escrever um filho e ter uma árvore.
plantar um filho, escrever uma árvore e ter um livro.

sólido

unhas romã, pés descalços, som de areia, os ombros molhados, joelhos estrábicos, viver é líquido, a fome palpável, pedra e concreto, solidez não solidão, te dou colher de chá se você me der a mão, das despedidas sobram: caixas de cartas, dedicatórias, um samba a dois, clarões, olheiras, uns discos, nomes de filhos, escovas de dente, da despedida sobra a falta.

sábado, 22 de março de 2014

atum

dois carros bateram na rua de casa, ouvi do sexto andar, as pessoas se odiando antes de se conhecerem, descuido, desculpa, tristeza, enquanto o jantar: pizza de atum e cerveja pensando na sobremesa, escrevi um ode aos peixes que sobem na piracema, que vem tristes numa lata, viram sushi segunda opção ou salada de batata, acompanham cebola e um queijo tal, já fisguei um anzol na boca de uma pessoa sem querer e não foi por isso que parei de pescar, paz é saber navegar, esperar o trem, sustentar o amor ou aceitar o fim? coisa linda é ter o sangue quente, endotermia, deus egípcio, ser cardume e desenhar além de nós dois.

quinta-feira, 6 de março de 2014

orelhão

ontem, orelhão da rodoviária, ficha ou cartão telefônico, espera dar linha, noventa noventa, números que a gente sabe de cor(ação), faz uns três anos então põe mais um nove na frente, playlist automático na cabeça, alô alô ou alalaô na quarta-feira de cinzas? é tão bom ouvir de novo a sua voz, apesar da distância que há entre nós, tem uma coisa que eu preciso dizer, tu não respondes e o meu coração em lágrimas desesperado vai dizendo alô, alô, marciano a coisa tá ficando ruça, tentei ligar pra você, o orelhão da minha rua tava escangalhado, o meu cartão tava zerado, mas você crê se quiser, um beijo pra você, não posso demorar, tô numa ligação urbana tem mais gente pra ligar.