sábado, 27 de abril de 2013

volta

faz ontem que você se foi. me afoguei na chuva. transbordei o mar. a lua cheia deixa a gente assim, meio fodido. eu achei que eu era mundo. mas finco meu pé-raiz nesse chão. vinco. o contorno de mim acabava em ti, agora o corpo dissolvido. você gostava dessas palavras de dicionário. aprendi a falar sua língua por amor. volta. canta mais uma música. ri mais uma risada pra preencher a sala. traz outra flor pra morrer no vaso. as plantas sedentas de ti. eu sedenta de tudo. volta ou apaga. dissolve as memórias feito o corpo. amor é conjugar os verbos no plural. o amor acaba singular. desata, ata. desfaz. nós. o desamor devia ser sincronizado. finitude do amor programada. tão mais fácil. volta. a cama vazia. tantas cartas nas caixas. os livros ainda tem o cheiro teu. o amor se escreveu nas paredes. volta. vai. fica. some. desaparece. desmancha. dissolve. me afunda. me prende. me solta. vou. volto. me lê. me escreve. me chove. me chora. me engole. me toca. me estranha. me esquece. me ama. some. volta. todos os verbos cabem no amor.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

diálogo



ele: eu detesto o jeito que você escreve. sua ausência de maiúsculas. os seus pontos finais que são vírgulas, dois pontos, reticências, interrogação, sempre. nunca fim. e eu fico sem saber onde começa onde acaba onde respira. detesto o jeito que você junta as palavras e as separa depois, pra elas sofrerem assim, saudosas das outras.


ela: me é indiferente a sua escrita. as suas maiúsculas sempre no lugar. que de vez em quando roubam o espaço das menores no meio das palavras. as suas reticências prolongando o fim de tudo. imprecisas esperançosas longas. é vazio. tudo tão apático e comum. você escreve assim como vive, previsivelmente. eu não detesto o jeito que você escreve. eu detesto o jeito que você vive.

antropofagia


devota devida desesperada (mente)
devorada

sexta-feira, 19 de abril de 2013

saudade | s.f  s.f. pl.| au ou a-u|  (latim solitas,-atis, solidão) 

1. lembrança nostálgica e ao mesmo tempo suave, de pessoas e coisas ausentes, distantes ou extintas, acompanhado do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las 
2. nostalgia
3. pesar da ausência de alguém que nos é querido
4. (botânica) denominação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas e a suas flores de cores variadas - perpétua, suspiro
5. (zoologia) pássaro muito atraente da família dos cotingídeos (tijuca atra), encontrado na serra do marinha - assobiador
6. cantiga da terra, entoada pelos marujos em alto mar

quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

os três mal amados

voz, pra quem só me lê.
texto de joão cabral de melo neto na minha voz,
que o amor - faminto - também comeu.

      

terça-feira, 9 de abril de 2013

perdi um brinco, as chaves, a hora, duas aulas, o trem, a fé, minha carteira com tudo dentro, perdi o lugar, meu assento, o senso e nós. de tanto procurar, achei as chaves, aquele cartão, o seu endereço, a carteira com os documentos, o dinheiro não. achei dois pregos no bolso, um trocado na bolsa. você e eu.
quando eu era pequena achava que só gente amarga gostava de café. não entendia porque beber algo de gosto tão forte. hoje me rendi, disfarço a amargues com várias colheres de açúcar. a minha e a do café.

domingo, 7 de abril de 2013

reza

não sei se é devido ao alinhamento dos planetas ou problemas de numerologia. se eu pergunto pros búzios, tarô, iemanjá ou qualquer entidade cósmica esotérica interplanetária. se é culpa das marés, do acaso, do azar, da sorte, da vida ou uma mistura desfavorecida de signo, ascendente e lua. só peço por um pouco mais de compaixão, por favor. essa tendência tragicômica da minha vida amorosa tem que passar uma hora, oxalá. 
eu perguntei. meu orixá me disse que o amor também é bom sem doer.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

mulher ao meu lado no metrô: se eu pudesse avoar, avoaria. sabe, fia? 
avoar que nem passarinho.
eu: acho que a gente avoa um pouquinho todo dia. a gente é um tanto passarinho.

quarta-feira, 3 de abril de 2013