sábado, 29 de junho de 2013

sincretismo

último dia de aula, preparação pra festa junina. violão, piquenique e contação de história. uma menina começou a contar como foi o ano que ela morou na china, um outro menino resolveu que queria cantar uma música em japonês que aprendeu na igreja. disse que precisava de um colar para o canto, ofereceram um terço, um relicário, cordão, corrente de prata, de miçanga, de florzinha, até que alguém ofereceu um colar com um pingente de um e.t florescente de plástico, e foi feita a reza.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

escafandristas

o amor ímpar que fica pairando ali, esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor

ai, chico. dói

segunda-feira, 24 de junho de 2013

taça

o que não se cura com tempo, se cura com uma três garrafas de vinho

ana c.

desde que te li, fiquei muda
fiz das suas, as minha palavras
e desse silêncio, o meu
um vocêu em mim

sábado, 22 de junho de 2013

uma pausa

apesar dos pesares, ontem eu estava toda feliz na escola que comecei estagiar essa semana. tinha ganhado um desenho, as crianças eram só amor, fui super bem recebida, quando professora (que não sabe se eu me chamo camila ou carol, por isso resolveu me chama de carolcamila) me pediu pra ir buscar papel pra limpar a mesa suja de tinta. fui, na maior boa vontade, e voltei distraída, como sempre, pensando na vida. estava cruzando o pátio quando escorreguei, me desequilibrei, apoiei no bebedouro, cortei minha mão, me espatifei no chão, o bebedouro caiu em cima de mim, quebrou o cano, começou a vazar água, as crianças vieram correndo ver o que tinha acontecido, me ajudaram a levantar, levantei encharcada, mancando, chorando e rindo ao mesmo tempo -minha reação padrão toda vez que eu caio. resultado: todos alunos tentaram me consolar, falando que diversas vezes tinham caído ou escorregado ali perto do bebedouro, e eu ganhei um retrato meu, um registro fofíssimo de todo o meu gestual no ápice da vergonha de um dos tombos mais bonitos que eu já levei na vida.


crying is not allowed

quinta-feira, 20 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

sobre cortes, papéis, facas, limões e cicatrizes

ontem fiz um corte bem na dobra do meu dedinho direito com papel. timidamente chorei, contra o ardor intenso de um corte tão pequeno. me causa espanto o poder do papel, tão leve e aparentemente inofensivo. hoje cortava um limão distraída (ardia) e arranquei um tanto do meu polegar esquerdo com a faca. muito mais profundo, o choro e o corte. mais ardido que o papel e o limão. esqueci completamente do anterior. ai, a vida. você tá lá, mal se recuperando de um corte superficial, raso, choramingando à toa. arde sim, mesmo que pouco, mesmo que leve. e vem outro. cotidiano. usual. que dói, que arde, sangra, divide, afunda, adentra à carne. que precisa de proteção e de cuidado. não pode ser exposto. machuca por um tempo. incomoda, dificulta as operações normais. é três vezes maior que o primeiro. por vezes, cicatriz. lá vai a vida, marcar os corpos, o peito, os encontros, as nossas histórias com tantos cortes. por vezes lindos, inesperados, gigantescos, discretos. por vezes românticos, doídos, propositais, valiosos, cotidianos, necessários.  por vezes, cicatriz.

fósforo

todo mundo tem um quê de incendiário

segunda-feira, 10 de junho de 2013

co(r)po

amor é feito bebedeira. na ressaca juro que nunca mais. nunca mais vou beber, nunca mais vou amar, já não acredito em nada disso, não faz sentido. não vale o custo-benefício - muita dor de cabeça, de estômago, do peito, pra esse tanto de diversão. o amor acaba, a cerveja acaba. a paixão e a loucura passam. são sóbrios os fins, os términos, as manhãs. desilusão. tantas promessas vãs que se desfazem no primeiro copo ou no primeiro corpo, convidativo e apaixonante da noite seguinte.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

junho

me dá desespero pensar que a já é metade do ano e não fiz nem metade do que eu queria ter feito. do que eu queria ter dito, do que eu queria ter mudado, arrumado, entendido. já é metade do ano e não amei nem dois porcento do que queria ter amado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

cadarço

noite dessas me apaixonei por um desconhecido que se ofereceu para amarrar meus sapatos. tinha um desses nomes comuns masculinos de três sílabas. eu havia me perdido e procurava alguém conhecido. eu andava como quase sempre, tentando não pisar no cadarço desamarrado. me cutucou, se ofereceu: - meu sapato tá cheio de lama - eu disse - não tem problema - respondeu. me sorriu, abaixou e laceou os meus sapatos. perguntei seu nome, pra onde ele ia. um lado oposto ao meu. me despedi.se foi. me perdi mais um tanto. chorei uns vinte minutos. na chuva, no barro, na lama. de tristeza mesmo. chorei delicadeza, por ter achado tão bonito alguém ter amarrado meu cadarço na chuva, naquele estado em que eu me encontrava e no estado em que se  encontravam os meus sapatos. as pessoas andam desprovidas do sutil, do gesto, da pequenez, da delicadeza das coisas sinceras e simples. andamos tão sérios e firmes, mesmo desamarrados. eu chorei mesmo. solucei de lindeza. lógico, sensibilidade aflorada por um bom tanto de vodka, cerveja e vinho. mas senti. amei. sofri. chorei. a paixão durou um pouco mais de meia hora, o laço do sapato a noite inteira.

segunda-feira, 3 de junho de 2013