quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

agá dois ó

os olhos líquidos
somos mais de setenta e cinco por cento d'água
engolir um rio inteiro
chover à dois
evaporar
humor-maré
porto
por vezes, cais
perene
querer tudo
querer muito
transbordar
corremos pro mesmo lugar
morremos mar

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

bichos

meu pai tinha uma vaca chamada piscina. meu vô, um cavalo que tropeçava e caia. minha vó tem dois papagaios, a fia e o loro. meus tios, um tatu que adorava sanduíche de mortadela.

minha mãe teve um cachorro chamado sultão e clóvis, um patinho de borracha. clóvis também foi um passarinho que eu e a minha irmã encontramos no chão, cuidamos uns dias, depois voou. 

um tucano de um hotel já me perseguiu por causa de uma bolacha waffle de morango. uma vaca do sítio já mastigou minha camiseta branca e ela ficou verde.

tieta não gostava de criança e comeu um dos meus bonequinhos do rei leão. bazuca viveu mais de dezoito anos, uns meses mais velho que eu, crescemos juntos. zazá e lili eram mini-galinhas, viveram um tempo no apartamento.

minha irmã teve um peixe simpático e guerreiro chamado tutubarão. temos duas viras-latas lindas com nomes monossilábicos. na família tem muitos cachorros e muitos gatos, todos queridos.

minha vó enterrou no quintal quase todos os seus cães. enterrei peixes, hamsters e pássaros no jardins dos condomínios. tenho carinho pelos bichos.  quis ser bióloga. quase choro ou choro quando batem os pássaros e libélulas nas janelas grandes do interior.

simpatizo com tartarugas, tucanos e tatus, independentemente da aliteração
. dos bichos mais lindos soltos que vi, os flamingos. tenho como meta ver e amar uma girafa.

dos bichos que tive, dos bichos próximos, dos bichos livres, amor. dos bichos livres, amor. dos bichos nós, reaprender a ser mais bicho.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

concha

me despeço de ti
que já não cabe mais em mim

me despeço de mim
que já não cabe mais em nós

sábado, 16 de novembro de 2013

poeminha (rimado) sobre o protetor solar

fui sol
mais que devia
e eu, que antes sofria
do coração 
sofro agora
de queimação 

abusei do (a)mar
sem protetor solar

a cintura-linha 
separa
o corpo dourado
acima
do corpo queimado
abaixo

piada ou desafio
a sedução 
morena-jambo
da coxa-pimentão 

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

fuga número três

sete horas, outro dia seriam três. tanto tempo de estrada versus pés na areia. caos por um tanto de paz. me perguntei se valia a pena. você diria que sim, concordei depois de um mergulho. tem coisas que só o mar dissolve. me emociona esse tanto de água junta. a tristeza não é azul. quase-despedida. quem sou eu pra te pedir pra ficar? estar perto não é físico. sim, o que não vale a pena é voltar.

sal

o mar é doce no feminino 

domingo, 10 de novembro de 2013

cinco

mandei um telegrama pro nosso amor antigo e um cartão postal do oriente com dois selos e dezessete dias pra chegar; gravei uma fita; comprei um vinil por cinco reais num sábado de feira; (tem em casa aquele chá que você tanto gosta e aquele meu livro que você tanto reclama sorrindo); escrevi uma música pra você há dias ou anos, já nem sei; falta coragem e remetente pras cartas da gaveta; os dias se embaralham e às vezes parece ontem; o peito se embaralha e às vezes parece amor; a tristeza se embaralha e às vezes parece saudade

e é

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

farrapo

se sentia inteiro em migalhas, aos pedaços. achava completo ser metade. trazia um peito-mosaico, um sorriso-retalho (o amor trapo). há quem encontre paz em frangalhos.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

domingo, 20 de outubro de 2013

mensurável

os lugares da memória não cabem nos lugares reais
o ontem, tão maior que hoje; o hoje, tão menor que amanhã

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

música de elevador

se tivéssemos nos encontrado no elevador, seria um oi ou um bom dia, eu olharia os seus pés e você, os meus joelhos, ao som de uma música romântica dos anos noventa. mas nos encontramos na urgência, na chuva corre mais que o perene, só cabe aos olhos outros olhos, ao som cabe o silêncio, fugaz é mais longo que do décimo andar ao primeiro, que seja eterno, o passageiro.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

respiros

cortar as unhas; olhar o teto por três minutos interruptos; ler um capítulo inteiro em voz alta; ocupar um canto nunca antes ocupado da casa; deitar no chão; dançar; preencher os potes vazios, esvaziar os cheios; estalar os dedos; deslizar no corredor; organizar os temperos da cozinha; vestir uma roupa antiga; pequenos tempos meus.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

primitivo

exibiam os dentes ao mostrar simpatia, consideravam carinhosa a deformação facial: cerrar os olhos e franzir narizes. era educado mostrar os dentes em resposta e, por vezes, soltar um barulho peculiar com a boca aberta - uns estridentes, outros tímidos - movimento contagioso que se propagava por quase todo o grupo.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

km

quis te falar em qualquer língua que não fosse a sua ou a minha, sem que entendêssemos nada, mas conseguíssemos nos expressar completamente nesse dialeto desconhecido. não cabia o silêncio, por mais sincero que fosse. quis te falar de números, medidas e linhas, qualquer coisa mensurável que não medisse o amor. não cabia o toque, por mais natural que fosse. quis te falar da necessidade da presença, da saudade e da ausência . não cabia o longe, por mais distante que fosse.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

endereço

sempre chega correspondência em casa pra um tal de túlio. já faz mais de três anos que as contas e lembretes procuram por ele aqui, em vão. as cartas são avessas à mudanças. conheço túlio pelo seu nome inteiro, convênios de companhia aérea, contas de banco, por todas as cartas que recebi e nunca abri. imagino como ele é, aonde mora, o que ele faz, se não faz falta as coisas que não chegam há anos, se ele anda esquecido ou mudou de país. penso nas minhas cartas, telegramas e cartões-postais perdidos, que chegam invertidos em qualquer outro canto que não esse. será que a pessoa de lá pensa em mim quando recebe a carta que eu nunca recebi; ou quem sabe, nessa ou em  uma outra dimensão, não é o túlio que anda guardando as minhas correspondências há mais de três anos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

gota

firmar 
a tempestade 
azulejar 

o ontem

bendiz 
o tempo 
(roto)


o cheiro 

de chuva 
gota

o gasto 

o gosto

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

maré

analisando as minhas vidas passadas (não que eu realmente acredite no conceito de reencarnação, mas acho bonito isso de ser outros de outros tempos, hoje no que somos) e cheguei a conclusão que numa dessas vidas atrás eu devo ter sido marinheiro, peixe, estrela-do-mar, barco ou pescador, só assim pra explicar essa saudade do mar que não passa, e esses amores que, feito maré, vem e vão.

domingo, 8 de setembro de 2013

o corpo (casca)




































fotos

carapaça
                 o corpo
                 (a casca)
carcaça
                  a casca
                 (o corpo)
casa
       casaca

o oco

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

saudade

saudade é peste, epidemia, doença contagiosa. pega na pele, no peito, nos cílios, nos dentes, nos dedos. é micose, alergia, inflamação. pode ser silenciosa. ataca todos os sentidos. em alguns é fratura exposta, em outros hemorragia interna. é transmitida pela saliva, pelo ar, pelo toque, pela ausência, pelo sexo. recomendam lavar bem as mãos depois de espirrar, tossir ou chorar saudade. nunca esfregue os olhos. é bom sempre deixar as janelas abertas. um banho de mar pode melhorar tudo. conversar sempre ajuda. ataca todas as faixas etárias, gêneros, espécies. diagnosticaram casos de saudade aguda até nas plantas. não tem vacina. todos os tratamentos são experimentais. tem quem indique o álcool, a palavra, terapia, banho de sol, literatura, viagens, homeopatia, cartas, antibióticos, mentiras, outros amores. o tempo é ainda o melhor remédio. atenua os sintomas. controla a intensidade e o grau. as doses do tempo variam de acordo com o paciente e o tipo de saudade. suaviza no decorrer dos anos, mas deixa sempre cicatriz. os pesquisadores (todos infectados) ainda buscam a cura, escrevendo.

voar

tentar 
ser sempre 
um tanto 
passarinho

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

calendário

esperava a eternidade de agosto, agora me amarro, seguro, me apego aos dias que sobraram. aonde se escondeu o mês? tantos planos, tão pouco tempo. desespero é ver passar tudo tão rápido assim, e nem sentir. escorrem os dias. penso eu não dormir. venta demais. acho setembro difícil. fiz uma lista numerada de coisas pra se fazer antes de outubro, mas outubro é amanhã. toda a conjunção astral me sacaneando. não estou pronta pra mudar de ano, antes de mudar de mim.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

dispositivo

tá na hora de alguém inventar um dispositivo acoplado à todas as coisas da vida em que você aperte o botão específico daquele objeto e ele se teletransporte, materialize, apite, brilhe, qualquer sinal que seja pra que você possa encontrar aonde ele foi parar. de sapatos à chaves, brincos, roupas, dinheiro, casaco, documento, caderno, remédio, lápis, aquela coisa que você estava na mão à dois segundos atrás e simplesmente desapareceu, garrafa d'água, pen drive, pente de cabelo, moeda, grampo, pessoas e quem sabe em mim mesma pra ver se fica mais fácil de me encontrar.

terça-feira, 27 de agosto de 2013

valsa da calçada

eu não sei desviar das pessoas na rua. tudo piora exponencialmente quando tem guarda-chuvas envolvidos. faço contato visual de longe, busco um sinal de direcionamento da outra pessoa, tento me decidir pela esquerda ou direita, tudo em vão. quanto mais perto, mais indecisão. decido me entregar à escolha do desconhecido, ele que assuma os passos, o lado, a via. quando escolhido, é magnético e incontrolável, meu corpo tende ao encontro. se a pessoa vai pra direita, vou eu também. se é pra esquerda, te acompanho. e me flagro pensando (entre os dois-pra-lá-dois-pra-cá da dança do desvio) qual seria a reação da pessoa se por acaso eu a tomasse pela cintura, e a conduzisse na valsa da calçada. um empurrão? susto, surpresa, sorriso? acabo sorrindo eu, e pedindo desculpa - sou de libra, moça - e vou valsando sozinha.

hortelã

voltei pra casa carregando no rosto, um sorriso e nas mãos, o mais novo morador do apê dentro de um vaso vermelho simpático. na sala já vive um manjericão à dois meses que sobreviveu ao frio e ao inverno, com muito amor compartilhado, solzinho e água. agora o hortelã perfuma (levemente) de chá, a sala, e tem tanta flor, tanta planta, tanto verde, que é quase primavera aqui dentro.

carapólia

das palavras da minha vó: carapólia
adjetivo neutro

1. pessoa sem escrúpulos, atrevida
2. cara-de-pau
3. sem vergonha
4. cínico, descarado

pode ser usado de forma carinhosa dependendo do grau de intimidade das pessoas envolvidas

domingo, 18 de agosto de 2013

tempo

acidez é inevitável. o tempo não nos faz mais doces ou dóceis. não tenho medo da velhice, da ausência ou dos domingos. nem do silêncio, dos anos, da gravidade ou do vazio. é o amargo que me bota medo. amargar é inaceitável. me bordei delicadezas pra não esquecer. a patrulha do sensível, do mínimo. sinto que já perdi um tanto de doçura ou de sonho. conservo o agridoce. acidez crescente com os anos. não tenho medo do tempo, mas o tempo insiste em conservar o meu medo do escuro.

sábado, 17 de agosto de 2013

sentidos

onze horas de sono, vários sonhos. entre dinossauros, memórias de infância e militância travesti, sonhei que as pessoas tinham três rostos, ao invés de só um. compartilhavam o mesmo corpo, o mesmo pescoço, uma só cabeça. três rostos, seis olhos, três bocas, três narizes e só um par de ouvidos, o que tornava as conversas um tanto complicadas e embaralhadas (as bocas, às vezes, se confundiam e respondiam perguntas dirigidas à outras, todas ouviam tudo, mas falavam separadamente).

os cortes de cabelo também eram diferentes, quase todos tinham as laterais raspadas, para não esconderem os rostos adicionais. era normal os relacionamentos serem de quatro pessoas, ao invés de duas, uma matemática difícil para entreter todos os rostos e só duas mãos por corpo. os mais aventureiros propunham geometrias e grupos de pesquisa em relacionamentos, tentando gerenciar a pluralidade da visão, olfato, paladar, para uma limitação de corpos e sentimentos, únicos, vários, e sentidos básicos, feito audição e o tato.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

cambalear

1. não andar direito (como os bêbados)
2. dar passos incertos como quem vai cair
3. vacilar sobre os pés, não ter apoio 
4. mostrar-se irresoluto, inseguro


classe gramatical: verbo intransitivo
tipo do verbo: regular
separação das sílabas: cam-ba-le-ar
letras: nove / vogais: a e / consoantesb c l m r
verbo escrito ao contrário: raelabmac
infinitivo: cambalear
gerúndio: cambaleando
particípio passado: cambaleado

pretérito perfeito: eu cambaleei, tu cambaleaste, ele cambaleou, nós cambaleamos, vós cambaleastes, eles cambalearam.

pretérito mais-que-perfeito: eu cambaleara, tu cambalearas, ele cambaleara, nós cambaleáramos, vós cambaleáreis, eles cambalearam

pretérito imperfeito: eu cambaleava, tu cambaleavas, ele cambaleava, nós cambaleávamos, vós cambaleáveis, eles cambaleavam

futuro do pretérito: eu cambalearia, tu cambalearias, ele cambalearia, nós cambalearíamos, vós cambalearíeis, eles cambaleariam

no indicativo cambaleia tu, cambaleie ele, cambaleemos nós, cambaleai vós, cambaleiem eles, mas eu, nunca.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

resposta

ensaio sempre o não, mas sem querer, sai sempre sim

dias

o fim do dia não é à meia-noite ou ao amanhecer. não acredito no tempo do relógio. o dia acaba quando a gente acorda. se não dormi nem acordei, ainda é hoje. os dias crescem, tem dois sóis, transbordam para o seguinte. os seguintes sempre tímidos, mínimos, reduzidos. te vi quando voltava pra casa. eu, indo dormir e você recém-acordado.

(eu era ontem e você hoje; eu era hoje e você amanhã)

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

coisas que não tem fim

bagunça no quarto, sono, a estrada até a casa da minha vó, saudade, capacidade das coisas darem errado, preguiça, borracha, vergonha alheia, segredos, indecisão, fome, mar, areia-movediça, buraco negro, gente burra, o filme e o vento levou, céu, espaço, as dimensões cósmicas esotéricas intergaláticas, saliva, ar, playlist com mil horas ininterruptas de música ruim, vontade de tomar cerveja ou milkshake, tempo, areia, vidas passadas, amor, tristeza também não tem fim.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

potência

inventei uma palavra/número entre o três e o cinquenta e sete, para ser minha. tem quatro sílabas, é agridoce, aveludada. pode medir a distância entre o mar e saturno, ou entre a boca e o nariz. serve para dizer que você está sentindo duas coisas diferentes ao mesmo tempo, como saudade e dor nas costas, ou leveza e vontade de espirrar. ajuda a calcular 3vazio, silêncio+2, ou amor¹³. para os números, é palavra. para as palavras, número. é tudo e nada. é transparente, quase-segredo, feito o tempo.

sábado, 3 de agosto de 2013

volta

fiz promessa
mágica
macumba
simpatia
contratei o trago o amor perdido em dez dias
(in)úteis
pedi pra iemanjá
pros orixás
te fiz canção
sinsalábim
teletransporte forçado involuntário
bebi nós dois
fiz reza
abri mão das sonecas da tarde
e do chocolate pelos próximos três anos
te trouxe flores
fiz carnaval
(todas as nossas fotos em porta-retratos
mil pregos martelados na parede)
bordei desculpas
contei pra máquina de escrever todas as suas mentiras
fui de joelhos até bahia
parei de beber
não sambo mais
prometo raspar meu cabelo
rasgar todos os meus vestidos
andar descalça por um ano inteiro
esqueço todos os seus erros se você voltar
pra você voltar

mas você não aparece


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

sim

coberta (casulo)
escondi o corpo
máquina do tempo primitiva
será que seu deitar aqui em silêncio volto uns anos?
uns dias?
quiçá séculos

esconde
mas ainda entra luz
eu consigo ver suas mãos
mas não as minhas

me teletransportar
satéliteficar

meu amor,
estamos morrendo de sede
peixes, plantas, paredes
saudade anda seca
sedenta
traz um rio
pra nos banhar
traz o mar
pra eu engolir

até as flores desistiram de ser plástico,
queriam viver

vive
como se nunca houvesse amado
mas é mentira,
eu sei



segunda-feira, 29 de julho de 2013

saldo de hoje

quase-atropelamento: dois
ruas antes desconhecidas agora devidamente desbravadas: sete
chás: três
espirros: uns trinta
vasos pintados: dois e meio
armários organizados: zero
dinheiro emprestado: dois e vinte e cinco
e-mails cara de pau: quatro
telefonemas difíceis: um
chocolate: zero
meias: quatro
mentiras: uma e meia 
(somar mais uma)
grampos perdidos: uns cinco
dinheiro sacado: vinte
livros começados: um/ terminados: menos três
coisas que eu deveria ter feito e fiz: uma 
garrafas de vinho: uma
discos: três
saudade: sim

domingo, 21 de julho de 2013

o espaço

achei um texto que escrevi em 2001, aos dez anos, com previsões para 2018. apesar de uns cálculos confusos em relação à minha idade (não nasci pra matemática), ou uma quebra de espaço/tempo (possível, mas não especificada na história), espero que daqui à cinco anos, eu me encontrasse em uma lanchonete intergaláctica, tomando uns bons drinks e paquerando uns alienígenas interessantes.




porre conceitual

beber para preencher o vazio existêncial,
acordar com a mais mundana das ressacas

sábado, 20 de julho de 2013

zero oitocentos

sábado. horário que ainda poderia estar dormindo, e eu acordada, precisando ligar para esses zero oitocentos da vida, para resolver problemas e burocracias do mundo pseudo-crescido de ter contas em seu nome. se meu humor já não está aquelas coisas - eu em casa, acordando quase meio-dia - o que será do humor e da boa vontade da pessoa do outro lado da linha, trabalhando em pleno sábado de sol. liguei esperando o pior. para minha surpresa, uma moça simpática me atendeu, com uma voz tranquila e toda paciência do mundo. trocamos risadas, durante a resolução do meu problema. me disse para eu retornar a ligação, qualquer outra coisa, que ela estaria lá até às quatro da tarde. desliguei. agora estou aqui pensando se não deveria retornar, perguntando se ela mora em são paulo e se não topa tomar uma cerveja depois do expediente, pra ver se ela me ajuda a resolver os outros problemas da vida.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

terça-feira, 16 de julho de 2013

água

achava graça em naufragar, transbordar de si, se afogar em nós. desaguou no mar feito rio. o corpo solúvel. o amor dissolvido. é líquido, o fim. a água e seu silêncio quase-segredo. (sussurro). era paz.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

futuro

eu e o meu pai no carro:

- cá, você ta em que ano da faculdade mesmo?
- no quarto, pai.
- e você se forma quando?
- se tudo der certo, ano que vem.
- nos dois? 
- nos dois.
- e você já sabe o que vai fazer depois que você se formar?
- não faço ideia, pai.
- nenhuma, nenhuma ideia, cá? 
- nenhuma.
- vixe.

pois é, vixe.

domingo, 14 de julho de 2013

radiografia

eu incendiei todas as suas cartas. escondi as fotografias e os nossos planos em caixas, no fundo do armário. mas guardei (com carinho) as radiografias dos seus cachorros. ah, o amor e seus resquícios em nossos corpos, gavetas, paredes, quartos, histórias, em nossos defeitos, medos, paixões, na saudade, no peito.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

libra

gostaria de deixar registrado o meu profundo agradecimento às pessoas que inventaram essas coisas três/dois-em-um, meio-a-meio, ou que englobe várias opções em uma só, tipo: casquinha mista, sorvete napolitano, pizza com dois sabores, bolsa dupla-face, canivete, trailer (linda essa coisa de carro/casa), short-saia, bissexualidade, sofá-cama, coisas furtacor, um objeto de plástico que eu tenho que é garfo/colher/faca, relacionamento aberto, base que também é protetor solar, ménage à trois, calça que vira bermuda, trakinas meio a meio, entre outros. obrigada, vocês facilitaram muito a vida das pessoas indecisas, como eu, e diminuem o drama nas pequenas escolhas diárias.

escavação

 é preciso cavar mais fundo, mais dentro, para expor o avesso

quinta-feira, 4 de julho de 2013

dentro

tocava uma valsa no seu pulmão esquerdo. brotou uma flor na garganta. era primavera nos rins e outono no fígado. o estômago repleto de borboletas. no peito, um samba. disritmia no contratempo.

saldo

uma decepção amorosa a mais
uma paixão platônica a menos

sábado, 29 de junho de 2013

sincretismo

último dia de aula, preparação pra festa junina. violão, piquenique e contação de história. uma menina começou a contar como foi o ano que ela morou na china, um outro menino resolveu que queria cantar uma música em japonês que aprendeu na igreja. disse que precisava de um colar para o canto, ofereceram um terço, um relicário, cordão, corrente de prata, de miçanga, de florzinha, até que alguém ofereceu um colar com um pingente de um e.t florescente de plástico, e foi feita a reza.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

escafandristas

o amor ímpar que fica pairando ali, esperando que alguém o apanhe e complete a sua função de amor

ai, chico. dói

segunda-feira, 24 de junho de 2013

taça

o que não se cura com tempo, se cura com uma três garrafas de vinho

ana c.

desde que te li, fiquei muda
fiz das suas, as minha palavras
e desse silêncio, o meu
um vocêu em mim

sábado, 22 de junho de 2013

uma pausa

apesar dos pesares, ontem eu estava toda feliz na escola que comecei estagiar essa semana. tinha ganhado um desenho, as crianças eram só amor, fui super bem recebida, quando professora (que não sabe se eu me chamo camila ou carol, por isso resolveu me chama de carolcamila) me pediu pra ir buscar papel pra limpar a mesa suja de tinta. fui, na maior boa vontade, e voltei distraída, como sempre, pensando na vida. estava cruzando o pátio quando escorreguei, me desequilibrei, apoiei no bebedouro, cortei minha mão, me espatifei no chão, o bebedouro caiu em cima de mim, quebrou o cano, começou a vazar água, as crianças vieram correndo ver o que tinha acontecido, me ajudaram a levantar, levantei encharcada, mancando, chorando e rindo ao mesmo tempo -minha reação padrão toda vez que eu caio. resultado: todos alunos tentaram me consolar, falando que diversas vezes tinham caído ou escorregado ali perto do bebedouro, e eu ganhei um retrato meu, um registro fofíssimo de todo o meu gestual no ápice da vergonha de um dos tombos mais bonitos que eu já levei na vida.


crying is not allowed

quinta-feira, 20 de junho de 2013

quarta-feira, 12 de junho de 2013

terça-feira, 11 de junho de 2013

sobre cortes, papéis, facas, limões e cicatrizes

ontem fiz um corte bem na dobra do meu dedinho direito com papel. timidamente chorei, contra o ardor intenso de um corte tão pequeno. me causa espanto o poder do papel, tão leve e aparentemente inofensivo. hoje cortava um limão distraída (ardia) e arranquei um tanto do meu polegar esquerdo com a faca. muito mais profundo, o choro e o corte. mais ardido que o papel e o limão. esqueci completamente do anterior. ai, a vida. você tá lá, mal se recuperando de um corte superficial, raso, choramingando à toa. arde sim, mesmo que pouco, mesmo que leve. e vem outro. cotidiano. usual. que dói, que arde, sangra, divide, afunda, adentra à carne. que precisa de proteção e de cuidado. não pode ser exposto. machuca por um tempo. incomoda, dificulta as operações normais. é três vezes maior que o primeiro. por vezes, cicatriz. lá vai a vida, marcar os corpos, o peito, os encontros, as nossas histórias com tantos cortes. por vezes lindos, inesperados, gigantescos, discretos. por vezes românticos, doídos, propositais, valiosos, cotidianos, necessários.  por vezes, cicatriz.

fósforo

todo mundo tem um quê de incendiário

segunda-feira, 10 de junho de 2013

co(r)po

amor é feito bebedeira. na ressaca juro que nunca mais. nunca mais vou beber, nunca mais vou amar, já não acredito em nada disso, não faz sentido. não vale o custo-benefício - muita dor de cabeça, de estômago, do peito, pra esse tanto de diversão. o amor acaba, a cerveja acaba. a paixão e a loucura passam. são sóbrios os fins, os términos, as manhãs. desilusão. tantas promessas vãs que se desfazem no primeiro copo ou no primeiro corpo, convidativo e apaixonante da noite seguinte.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

junho

me dá desespero pensar que a já é metade do ano e não fiz nem metade do que eu queria ter feito. do que eu queria ter dito, do que eu queria ter mudado, arrumado, entendido. já é metade do ano e não amei nem dois porcento do que queria ter amado.

terça-feira, 4 de junho de 2013

cadarço

noite dessas me apaixonei por um desconhecido que se ofereceu para amarrar meus sapatos. tinha um desses nomes comuns masculinos de três sílabas. eu havia me perdido e procurava alguém conhecido. eu andava como quase sempre, tentando não pisar no cadarço desamarrado. me cutucou, se ofereceu: - meu sapato tá cheio de lama - eu disse - não tem problema - respondeu. me sorriu, abaixou e laceou os meus sapatos. perguntei seu nome, pra onde ele ia. um lado oposto ao meu. me despedi.se foi. me perdi mais um tanto. chorei uns vinte minutos. na chuva, no barro, na lama. de tristeza mesmo. chorei delicadeza, por ter achado tão bonito alguém ter amarrado meu cadarço na chuva, naquele estado em que eu me encontrava e no estado em que se  encontravam os meus sapatos. as pessoas andam desprovidas do sutil, do gesto, da pequenez, da delicadeza das coisas sinceras e simples. andamos tão sérios e firmes, mesmo desamarrados. eu chorei mesmo. solucei de lindeza. lógico, sensibilidade aflorada por um bom tanto de vodka, cerveja e vinho. mas senti. amei. sofri. chorei. a paixão durou um pouco mais de meia hora, o laço do sapato a noite inteira.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

sábado, 25 de maio de 2013

eu menti pra você



























o avesso
do avesso
do avesso
do avesso

camelo-cama(leão)






















sonhei que eu estava de férias e fui viajar com a minha família pra uma cidadezinha longe de tudo, no norte do país. boatos diziam que lá as coisas tinham mais de uma cor, não os objetos, mas as coisas vivas. alugamos um chalé, tudo tão simples, areia no chão, cama de rede e cheiro de tempo antigo. perambulamos, procurando o causo. passado um tempo, encontramos uma espécie de camelo selvagem com três corcovas, que variava de um marrom/caramelo característico à tons de azul, um azul forte, pêlo brilhante. tendia à uma gama de cores frias. trilha a dentro, percebemos que não só os animais, mas as pessoas também oscilavam, podiam ser cor de laranja, azul turquesa, gris, grená ou dourado. e que era só adentrar mais na mata (e em nós) que virávamos camaleões.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

mapa

todos os meus planos de fuga acabam no mar ou em uma cidadezinha com um nome impronunciável. ultimamente todas as minhas rotas são de fuga. feito rio desaguo no mar da palavra desconhecida. tem outras opções sem ser fugir, eu sei. mas quero ser mundo.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

sexta-feira, 17 de maio de 2013

eu ando o equivalente à quatro quadras, no caminho de casa ao metrô. desço seis andares. dobro uma esquina. atravesso duas ruas. na ida eu aperto um botão, pra ascender verde o farol de pedestre. na volta aperto dois. no poste do último botão -da volta- escreveram a algum tempo uma pergunta. todo dia eu aperto o botão. todo dia eu leio a pergunta. todo dia confiro. tem certeza que o céu azul? 73% das vezes respondo cinza. 


as certezas são líquidas
hoje
acordei
e a
palavra
saiu
outra
a
língua
soou
outra
era
quase
mas
não
era
a minha
palavra

sábado, 27 de abril de 2013

volta

faz ontem que você se foi. me afoguei na chuva. transbordei o mar. a lua cheia deixa a gente assim, meio fodido. eu achei que eu era mundo. mas finco meu pé-raiz nesse chão. vinco. o contorno de mim acabava em ti, agora o corpo dissolvido. você gostava dessas palavras de dicionário. aprendi a falar sua língua por amor. volta. canta mais uma música. ri mais uma risada pra preencher a sala. traz outra flor pra morrer no vaso. as plantas sedentas de ti. eu sedenta de tudo. volta ou apaga. dissolve as memórias feito o corpo. amor é conjugar os verbos no plural. o amor acaba singular. desata, ata. desfaz. nós. o desamor devia ser sincronizado. finitude do amor programada. tão mais fácil. volta. a cama vazia. tantas cartas nas caixas. os livros ainda tem o cheiro teu. o amor se escreveu nas paredes. volta. vai. fica. some. desaparece. desmancha. dissolve. me afunda. me prende. me solta. vou. volto. me lê. me escreve. me chove. me chora. me engole. me toca. me estranha. me esquece. me ama. some. volta. todos os verbos cabem no amor.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

diálogo



ele: eu detesto o jeito que você escreve. sua ausência de maiúsculas. os seus pontos finais que são vírgulas, dois pontos, reticências, interrogação, sempre. nunca fim. e eu fico sem saber onde começa onde acaba onde respira. detesto o jeito que você junta as palavras e as separa depois, pra elas sofrerem assim, saudosas das outras.


ela: me é indiferente a sua escrita. as suas maiúsculas sempre no lugar. que de vez em quando roubam o espaço das menores no meio das palavras. as suas reticências prolongando o fim de tudo. imprecisas esperançosas longas. é vazio. tudo tão apático e comum. você escreve assim como vive, previsivelmente. eu não detesto o jeito que você escreve. eu detesto o jeito que você vive.

antropofagia


devota devida desesperada (mente)
devorada

sexta-feira, 19 de abril de 2013

saudade | s.f  s.f. pl.| au ou a-u|  (latim solitas,-atis, solidão) 

1. lembrança nostálgica e ao mesmo tempo suave, de pessoas e coisas ausentes, distantes ou extintas, acompanhado do desejo de tornar a vê-las ou possuí-las 
2. nostalgia
3. pesar da ausência de alguém que nos é querido
4. (botânica) denominação comum a diversas plantas da família das dipsacáceas e a suas flores de cores variadas - perpétua, suspiro
5. (zoologia) pássaro muito atraente da família dos cotingídeos (tijuca atra), encontrado na serra do marinha - assobiador
6. cantiga da terra, entoada pelos marujos em alto mar

quinta-feira, 18 de abril de 2013

quarta-feira, 17 de abril de 2013

os três mal amados

voz, pra quem só me lê.
texto de joão cabral de melo neto na minha voz,
que o amor - faminto - também comeu.

      

terça-feira, 9 de abril de 2013

perdi um brinco, as chaves, a hora, duas aulas, o trem, a fé, minha carteira com tudo dentro, perdi o lugar, meu assento, o senso e nós. de tanto procurar, achei as chaves, aquele cartão, o seu endereço, a carteira com os documentos, o dinheiro não. achei dois pregos no bolso, um trocado na bolsa. você e eu.
quando eu era pequena achava que só gente amarga gostava de café. não entendia porque beber algo de gosto tão forte. hoje me rendi, disfarço a amargues com várias colheres de açúcar. a minha e a do café.

domingo, 7 de abril de 2013

reza

não sei se é devido ao alinhamento dos planetas ou problemas de numerologia. se eu pergunto pros búzios, tarô, iemanjá ou qualquer entidade cósmica esotérica interplanetária. se é culpa das marés, do acaso, do azar, da sorte, da vida ou uma mistura desfavorecida de signo, ascendente e lua. só peço por um pouco mais de compaixão, por favor. essa tendência tragicômica da minha vida amorosa tem que passar uma hora, oxalá. 
eu perguntei. meu orixá me disse que o amor também é bom sem doer.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

mulher ao meu lado no metrô: se eu pudesse avoar, avoaria. sabe, fia? 
avoar que nem passarinho.
eu: acho que a gente avoa um pouquinho todo dia. a gente é um tanto passarinho.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

domingo, 31 de março de 2013

já levaram as janelas, as portas, os pratos, todas as nossas fotos dos porta-retratos. cortaram a nossa luz, o gás, o telefone (há tanto tempo sem linha). as cartas já não chegam mais aqui. levaram nosso endereço, as cortinas, os tapetes, as panelas da cozinha. mataram os nossos peixes. as flores morreram de sede. penduraram tão alto os nossos sapatos, nos fios quase céu. queimaram os discos, os papéis, as peças de roupa. levaram as cores das nossas paredes. aceitei. fiz. concordei. mas finjo. finjo não ver o teto cair, não sentir o chão ruir. finjo que a gente ainda tem tudo aqui dentro, pra crer que desaba a casa, mas nós não.

domingo, 17 de março de 2013

frágil | adj. dois g.
1. quebradiço
2. efêmero
3. fraco
4. material que se rompe após sofrer pouca ou nenhuma deformação. suporta pequenos esforços.
5. que não oferece resistência. rompe-se facilmente, tanto emocional como substancialmente.

quarta-feira, 13 de março de 2013

o céu cinza chuva em nuvem me sorriu fresta amarela entre os carros os prédios o asfalto. trocamos três sorrisos luz antes de desabar. acho bonito o céu chorar pitanga. não sei chover suco de fruta. a gente se despediu mas ele continua em cima e eu aqui embaixo.

sexta-feira, 8 de março de 2013

março é mês três
quase que um quarto de ano
já vivi em duas cidades
a vó calça trinta e sete
o vô quarenta
que tamanho tem um pé sem sapato?
em que vinte se deixa de ser jovem?
o meu ano não tem trezentos e sessenta e cinco dias
todo dia dorme oito horas por noite
joão descobriu com setenta anos o que queria ser quando crescer
gosto de música com mais de três minutos
acima dos dezoito paquero
meu rg tem nove números
o despertador toca quinze minutos antes do combinado
banda ou grupo tem três ou mais pessoas
duas é dupla
dois é o dobro
dois mais dois é cinco só quando tem algo errado
tem gente neurótica que só compra coisa em números pares
os números ímpares não são felizes mas são mais interessantes
dizem que demora seis meses pra esquecer um amor
o luto tem cinco fases
a luta um vencedor
se não dormir o dia dura mais de vinte quatro horas
quantos amores cabe num peito só?
em uma vida cabe quantos metros quadrados de mundo?
os gatos tem sete
nós uma só
no videogame a vida não tem número limite
saturno tem sete anéis
são dez dedos da mão mais dez dos pés
o corpo tende aos pares
dois pra cá e dois pra lá é valsa
o tango é ímpar
o amor é ímpar
nos dois se dança a dois
todos os números tem pelo menos duas letras.



terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

sai dois dias consecutivos do cinema, preferi o o ônibus ao metrô (por falta de pressa) e caminhei até a consolação. ontem eu achei dez centavos no chão. hoje vinte e cinco e três passos depois, outros dez. demorei um pouco mais, mas voltei feliz pra casa. quarenta e cinco centavos mais rica, com dois filmes vistos em companhia de gente querida e acreditando na simpatia da romã de ano novo.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

sonhei que tinha sido convidada pela ONU para representar o brasil em uma ação em pró da paz mundial. aceitado o convite, fui até a sede, e lá todos os representantes foram direcionados à uma sala de reunião. na sala havia uma banheira gigantesca repleta de água. esperamos a água ferver, assim que fervida, cada um colocou um pacote de macarrão do seu país e cozinhamos centenas de tipos diferentes de massa, todos juntos. uma só água, um só sonho e todas as nações reunidas pra cozinhar macarrão em uma banheira gigante. foi lindo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

pra sentir com a ponta dos dedos:
pele
vento
areia
algodão
amor
tinta
grama
cílios
sal
palavra
neve
tristeza
grão
tempo
mar
som
veludo



trezentos e sessenta graus

é tanto mundo e tão pouco tempo pra se ver tudo em uma vida só.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

sábado, 26 de janeiro de 2013

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


sobrou o silêncio
sincero dos amores
mudos

gritam
as ruas, 
transeuntes,
os relógios

grito eu,
em micromegafones 
pelo amor
seu

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

pensava que paixão platônica era restrita à adolescência. inocência minha acreditar que amores unilaterais e psicóticos se restringissem à uma certa faixa etária. isso é coisa pra vida inteira.
- essa frase é digna de uma tatuagem que eu não faria

domingo, 20 de janeiro de 2013

os comerciais de banco, o almoço de família, a chuva, o espirro, as baleias e outros animais marinhos, o barulho do aspirador de pó, a cama desarrumada, os livros na prateleira, os lenços de tecido, as janelas azuis, o silêncio, o filme na tevê, as contas pra pagar, os jornais de anteontem, a cebola, as cartas, os selos dos cartões postais, as mentiras, o vazio, a mesa de madeira suja de gelatina, a gaveta que caiu no meu dedinho, as plantas que só bebem água filtrada, a grama que nunca foi pisada, alguém que nunca pisou na grama, os tijolos de demolição, todos os sapatos que sentem falta dos pés, agora descalços. aproveitei que era domingo e chorei por todos esses e tantos outros motivos.

sábado, 19 de janeiro de 2013

livros que não tem fim. cíclicos. a última página acaba na primeira. ao terminar de ler volta-se (desesperadamente) para o início. não admitem separação, ausência, distância. não pertencem à prateleira. imprimem no corpo todos as vírgulas, palavras, parágrafos, páginas. aprende-se a respirar como respira o texto. à devorar sua pontuação. virar personagem, autor, leitor. sentir tudo o que há para se sentir. dispensa aspas para ser mais seu. narra. vestir a palavra. vestir o silêncio. ser verso. ser letra. livro-me, ao ser livro.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

ouvi tocar saudade
no lado b do vinil

virei revirei desvirei desbravei, bolsas e bolsos.
latas. pastas. cartas. caixas.
livros. gavetas. armários. até sapatos.
não ficou nada. nem seus erros.

diálogos imaginários de um triângulo amoroso
álcool memória eu

fim de tarde
a luz atravessa
a persiana
quadricula
segmenta
despedaça

essa coisa de ser inteira em pedaços

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

e apesar de todos os pesares, ainda acredito em acaso, signos, homeopatia e no amor.
juro.

domingo, 13 de janeiro de 2013


janelas para sapatos molhados
- silêncio também é som

das coisas que não tem lugar

ocupei uma gaveta com as coisas que não tem lugar. tento, procuro, insisto, mas elas não se encaixam em lugares específicos, prateleiras ou caixas divisórias. a gaveta está sempre abarrotada. flores de crochê à plástico, grampos de cabelo, cartões postais, um mini bumba-meu-boi, amores antigos, chaveiros, coleções passadas, conchas, pedaços de plástico e de infância, lembranças, cartões de crédito de desconhecidos achados na rua, e envelopes sem carta, com remetente e saudade dentro.