domingo, 31 de março de 2013

já levaram as janelas, as portas, os pratos, todas as nossas fotos dos porta-retratos. cortaram a nossa luz, o gás, o telefone (há tanto tempo sem linha). as cartas já não chegam mais aqui. levaram nosso endereço, as cortinas, os tapetes, as panelas da cozinha. mataram os nossos peixes. as flores morreram de sede. penduraram tão alto os nossos sapatos, nos fios quase céu. queimaram os discos, os papéis, as peças de roupa. levaram as cores das nossas paredes. aceitei. fiz. concordei. mas finjo. finjo não ver o teto cair, não sentir o chão ruir. finjo que a gente ainda tem tudo aqui dentro, pra crer que desaba a casa, mas nós não.

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