segunda-feira, 21 de abril de 2014

avião

cheguei três horas antes do voo, aeroporto me deixa ansiosa, quarenta minutos no ar, em contas incertas: é quatro vezes e meia maior a espera, penso se a vida não é isso de esperar, esperar, esperar.

aprendi com a minha mãe a fazer palavra cruzada e mascar chicletes de canela, passatempo e companhia de poltronas e grandes saguões, viajar e vigiar as malas, tentar não observar as pessoas descaradamente, apesar da curiosidade tamanha.

sempre achei pilotos seres um tanto prepotentes achando ok colocar centenas de pessoas dentro de um negocio pesadíssimo de ferro que cismou de voar, não há contas, equações, princípios da física que me convençam que é normal e não mágico, é mágico.

comida de avião me dá gases e muita sede, não é triste partir, não é triste chegar, somos todos mais humanos depois do portão de embarque. tem tanta gente sozinha em aeroportos, rodoviárias, estações de trem, penso se viajar não é reaprender a ser só pra ser mundo.

faz pouco tempo que aceitei a ser ímpar, tinha terror a solidão assistida, sempre achei que nasci pra ser manada, rebanho,cardume, par, felicidades são intervalos de solidão compartilhada. hoje eu vou ao café e ocupo uma mesa de dois, eu como comigo, ocupo uma cama pra dois em um, eu durmo comigo, aprender a ser companhia de si antes de se propor a acompanhar alguém.

e ir assistir sozinha aquele filme daquele diretor esquisito as vezes te faz conhecer um moço, também sozinho, de risada gostosa e com o mesmo gosto cinematográfico duvidoso que você, ou escapar pra comer aquele bolo de laranja num café que só você gosta, te faz conhecer uma senhorinha que morou na cidade da sua vó e que resolve te dar um brinco lindo de pressão antiga, azul de concha.

viver é bom, partida e chegada, solidão, que nada.

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