terça-feira, 4 de junho de 2013

cadarço

noite dessas me apaixonei por um desconhecido que se ofereceu para amarrar meus sapatos. tinha um desses nomes comuns masculinos de três sílabas. eu havia me perdido e procurava alguém conhecido. eu andava como quase sempre, tentando não pisar no cadarço desamarrado. me cutucou, se ofereceu: - meu sapato tá cheio de lama - eu disse - não tem problema - respondeu. me sorriu, abaixou e laceou os meus sapatos. perguntei seu nome, pra onde ele ia. um lado oposto ao meu. me despedi.se foi. me perdi mais um tanto. chorei uns vinte minutos. na chuva, no barro, na lama. de tristeza mesmo. chorei delicadeza, por ter achado tão bonito alguém ter amarrado meu cadarço na chuva, naquele estado em que eu me encontrava e no estado em que se  encontravam os meus sapatos. as pessoas andam desprovidas do sutil, do gesto, da pequenez, da delicadeza das coisas sinceras e simples. andamos tão sérios e firmes, mesmo desamarrados. eu chorei mesmo. solucei de lindeza. lógico, sensibilidade aflorada por um bom tanto de vodka, cerveja e vinho. mas senti. amei. sofri. chorei. a paixão durou um pouco mais de meia hora, o laço do sapato a noite inteira.

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