terça-feira, 11 de junho de 2013

sobre cortes, papéis, facas, limões e cicatrizes

ontem fiz um corte bem na dobra do meu dedinho direito com papel. timidamente chorei, contra o ardor intenso de um corte tão pequeno. me causa espanto o poder do papel, tão leve e aparentemente inofensivo. hoje cortava um limão distraída (ardia) e arranquei um tanto do meu polegar esquerdo com a faca. muito mais profundo, o choro e o corte. mais ardido que o papel e o limão. esqueci completamente do anterior. ai, a vida. você tá lá, mal se recuperando de um corte superficial, raso, choramingando à toa. arde sim, mesmo que pouco, mesmo que leve. e vem outro. cotidiano. usual. que dói, que arde, sangra, divide, afunda, adentra à carne. que precisa de proteção e de cuidado. não pode ser exposto. machuca por um tempo. incomoda, dificulta as operações normais. é três vezes maior que o primeiro. por vezes, cicatriz. lá vai a vida, marcar os corpos, o peito, os encontros, as nossas histórias com tantos cortes. por vezes lindos, inesperados, gigantescos, discretos. por vezes românticos, doídos, propositais, valiosos, cotidianos, necessários.  por vezes, cicatriz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário